o projeto Nova Luz é um retrocesso

O projeto continua arrastando políticas falidas, pessoas e dívidas…

 

“A chamada revitalização da Luz é um projeto que tem mais de 30 anos, da década de 1970 e que ficou pairando na história da política urbana de São Paulo. O projeto foi abandonado e retomado umas 550 vezes, cada vez de um novo jeito até desembocar neste, que se quer definitivo. Mas do que eu vi até agora, esse projeto não vai sair, eles vêm com tudo, mas a complexidade da trama da cidade é tão intensa que não permite, mas claro que depende muito do resultado da eleição, do quanto isso vai ser uma prioridade ou não para o novo prefeito/a.”

” Que é a relação, a idéia do território como espaço vivido e construído e pactuado por quem vive ali. Um pacto territorial! Um dia fui dar uma aula em Veneza e visitei uma associação de bairro e quando eu cheguei estava escrito assim: “Esta associação está aqui instalada desde o ano 1910.” Aquele lugar estava constituído como associação e como lugar há quantos anos? Quantas gerações enraizadas? A idéia que me veio na cabeça é de que aquilo tinha uma raiz profunda. A geração de vocês já nasceu em São Paulo, pela primeira vez temos uma geração que está no mesmo lugar, no mesmo bairro, há duas gerações! Você pergunta numa sala de aula: “Quem é filho de imigrante?”. Quando eu comecei a dar aula, há 30 anos, filhos de imigrantes eram todos, agora são netos, não importa se de italiano ou nordestino, isso não importa, mas são desenraizados, agora é que começou a enraizar, e na hora que enraíza começa a ter uma outra relação entre o ser e o território. Nós temos 40 anos de urbanização, 50 no Brasil, acho que com cem anos de urbanização talvez possamos construir uma outra relação do cidadão com o território no sentido de autoconstituição, porque o que não aconteceu foi o cidadão se autoconstituir na medida em que o território se constituiu. A idéia de público, de dimensão pública, é o reconhecimento do lugar que cada um ocupa dentro desse público. Mas que público é esse no qual o público não tem lugar? A favela não é um lugar, não é reconhecida como lugar, nem o cortiço. Como participa quem não tem lugar? O território, o lugar é muito importante, é fundamental, inclusive a possibilidade de existir com lugares nômades e cambiantes, porque esse é outro problema, se você não tem uma propriedade privada você não existe no Brasil. Mas quem disse que as pessoas têm que ter uma propriedade? Elas têm que ter um lugar digno para morar, isso não é sinônimo de ter uma propriedade.”

trechos da entrevista com Raquel Rolnik no livro Cidade Luz.

Raquel colaborou no desenho do Plano Diretor da cidade de São Paulo. 

 

E assim os poderes continuam se enrroscando em práticas sem diálogo com a população, sem reconhecer o cidadão como o agente principal da cidade…

 

A desapropriação da Nova Luz foi anunciada pela primeira vez em maio de 2005 pelo então prefeito José Serra (PSDB). A revitalização da área conhecida como Cracolândia também se tornou uma das bandeiras de Kassab. O plano engloba a recuperação de 750 imóveis previstos para serem desapropriados e R$ 2 bilhões de investimentos na área. Passados quatro anos, contudo, a maior parte do projeto segue no papel. Por vias da região, como nas Alamedas Glete e Helvetia, por exemplo, o cenário é o mesmo de uma década atrás: dezenas de jovens moradores de rua fumando crack à luz do dia, alguns poucos bares e quase nenhum morador.

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